Ilhéus - BA 04 de outubro de 2011
A glória de Maria procede de sua dignidade de Mãe de Jesus Cristo,
mas esta prerrogativa outorgou a ela outros privilégios, de sorte que em redor
do título de Genitora do Filho de Deus Encarnado florescem todas as perfeições
que nela contemplamos. Entre os privilégios desta mulher singular fulge a
Imaculada Conceição, ou seja, a isenção do pecado original no mesmo momento em
que a sua alma foi criada e unida ao corpo. Todos nós nascemos privados da graça
santificante, da pureza primitiva, da amizade de Deus. Ela, porém, foi pura,
imaculada, como outrora nossos primeiros pais no paraíso terrestre. Eles
desobedeceram a Deus, perderam sua amizade e nos legaram o pecado original.
Para a Rainha das Virgens, entretanto, tudo é luz. Ela entrou no mundo
destinada a ser a progenitora do Redentor da humanidade, brilhando com todos os
esplendores da divindade de Cristo a quem conceberia pelo poder do Espírito
Santo. Eis porque todas as belas-artes, cujo ideal é a beleza sem mancha e sem
defeitos, inclinaram-se diante da Virgem imaculada, prestando-lhe homenagens,
proclamando-a a sua rainha e procurando reproduzir-lhe os traços nos mais
primorosos trabalhos humanos. Foi a beleza imaculada de Maria que arrancou do
gênio de Rafael as suas Madonas, do pincel de Murilo as suas Conceições, da
virtude de Fra-Angélico as suas Virgens. Foi a beleza imaculada de Maria que fez
vibrar a alma de Mozart e de Gounod, entoando a Ave-Maria; foi a beleza
imaculada de Maria que guiou o buril dos artistas na pureza das linhas, na
graciosidade dos contornos, na harmonia do conjunto dessas estátuas que fazem o
encanto de nossas igrejas e o ornamento das nossas cidades. Foi a beleza
imaculada de Maria que fascinou e encantou o coração da humanidade, a ponto de
reformar os seus costumes e de purificar os seus sentimentos; foi a beleza
imaculada de Maria que suscitou através dos tempos as virgens cristãs em sua
radiante pureza e na sublimidade do seu heroísmo. Foi quem depositou na fronte
de nossas mães a modéstia, a graça, uma doce majestade que são ao mesmo tempo a
honra, a segurança e a felicidade da família. Ela é a cheia de graça, a bendita
entre todas as mulheres. Na vida de Maria Santíssima não houve um só momento em
que ela estivesse sujeita ao pecado, e esta crença universal de todos os séculos
cristãos foi solenemente proclamada dogma de fé a 8 de dezembro de 1854 pelo
Papa Pio IX: «Declaramos que a Bem-aventurada Virgem Maria, desde o primeiro
instante de sua concepção, por uma graça especial e um privilégio do Altíssimo,
em vista dos méritos de Jesus Cristo, o Salvador da raça humana, foi preservada
da mancha do pecado original». Este privilégio excepcional, esta glória sem
igual, lhe vieram unicamente dos merecimentos infinitos do Verbo de Deus que em
seu seio se encarnou, para redimir o gênero humano. Como a nuvem da tarde
reveste-se de púrpura e de luz, refletindo os últimos raios solares, quando o
astro do dia vai desaparecendo no horizonte, assim Maria, recebendo a eficácia
dos méritos do Redentor, apareceu na terra iluminada e foi sempre pura, santa,
sem mancha, original. Jesus é realmente o Deus feito Homem e, por conseguinte, a
humanidade lhe é tão necessária como a divindade. Maria entrou nos planos
salvíficos do Ser Supremo. O sangue que correu nas veias do Cristo procedeu da
vida de Maria, e a fonte desse sangue não poderia ser impura, o princípio dessa
vida não poderia ser viciado. A Virgem santa, que apresenta ao mundo o vencedor
do pecado, não poderia estar um instante sequer sob a lei do pecado. Aquela por
cujo intermédio a graça divina derrama-se sobre a criatura não viveria, ainda
que um só momento, fora da graça. A desonra materna tornar-se-ia a ignomínia do
Filho, e ainda que Cristo destruísse o império do pecado, haveria sempre uma
sombra em sua glória, pois antes de ser o vencedor do mal, teria sido podido
vencer o mal em sua santa Mãe, e a graça, que tudo purifica, teria sido
impotente na Conceição de Maria. Não nos basta, porém, recordar toda a grandeza
da Virgem Imaculada. Cumpre imitar sua pureza sem mancha numa pugna constante
contra tudo que possa conspurcar sua alma numa fuga perseverante das ocasiões de
pecado, das novelas obscenas, dos sites pornográficos, enfim de tudo que a mídia
sob inspiração do Maligno oferece para perdição eterna. Observância total,
absoluta do sexto e do nono mandamentos sagrados da Lei de Deus. Por isto, o
cristão está sempre a repetir:“O Maria concebida sem pecado original, rogai a
Deus por nós que recorremos a vós”!
* Professor no
Seminário de Mariana durante 40 anos.
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