Atenção Pastoral Familiar - Destaque semanal do Diretório

Una - BA 01 de outubro de 2011

Segue para a Pastoral familiar um destaque do Diretório da Pastoral Familiar para ser estudado pelo grupo (obrigatório) e pelas outras pastorais (opcional).


Capítulo 1
A SITUAÇÃO DA FAMÍLIA HOJE
Necessidade de conhecer a situação
12. A Igreja está profundamente convencida de que só à luz do Evangelho encontra plena realização a esperança que o ser humano põe legitimamente no matrimônio e na família. Num momento histórico em que a família é alvo de numerosas forças que a procuram desestruturar e destruir, a Igreja sente de modo mais vivo a sua missão de proclamar a todos os desígnios de Deus sobre o matrimônio e a família.9 Este é também o motivo pelo qual o presente Diretório adquire uma grande significação e relevância.
13. Uma vez que a família desempenha uma
função concreta e fundamental no meio da
sociedade, é preciso conhecer a situação em
que o matrimônio e a família se encontram
hoje. Esta situação – diz a Familiaris Consortio
– apresenta aspectos positivos e aspectos
negativos.
14. “Por um lado, de fato, existe uma consciência
mais viva da liberdade pessoal e maior atenção
à qualidade das relações interpessoais
no matrimônio, à promoção da dignidade da
mulher, à procriação responsável, à educação
dos filhos; há, além disso, a consciência da
necessidade de que se desenvolvam relações
entre as famílias por uma ajuda recíproca
espiritual e material, a descoberta da missão
eclesial própria da família e da sua responsabilidade
na construção de uma sociedade
mais justa. Por outro lado, contudo, não faltam
sinais de degradação preocupante de alguns
valores fundamentais: uma errada concepção
teórica e prática da independência dos cônjuges
entre si; as graves ambigüidades acerca
da relação de autoridade entre pais e filhos;
as dificuldades concretas que a família muitas
vezes experimenta na transmissão dos valores;
19. Tomando também como referência as significativas
mudanças socioculturais decorrentes
do êxodo rural, fruto da revolução industrial,
a família vem perdendo gradativamente a sua
força como fator de integração social.
20. O Brasil também já se estabeleceu no contexto
da globalização. Nesta – com um sistema de
comunicações que reduz a distância entre as
diferentes nações e povos –, paradoxalmente,
os indivíduos se tornam mais próximos e, ao
mesmo tempo, mais distantes. Muitas vezes
esse processo só aproxima as mercadorias
e
fomenta conflitos de interesses. A globalização
repercute na ética, na economia, na cultura
e na religião. Tanto pode reforçar o processo
da unidade dos povos e prestar um melhor
serviço à família humana, como se restringir
ciais indispensáveis para conseguir a mínima
dignidade humana.
As mudanças sociais e sua repercussão na família
17. As transformações técnicas e sociais propiciam
a formação de uma nova cultura, que
influi nos hábitos, valores, costumes e comportamentos
dos povos. Em decorrência disso,
também a família passa por alterações em suas
funções. A título de exemplo, vamos citar
algumas mudanças que têm afetado a família
ultimamente: existência ou superposição de
diferentes modelos de “família”; novas concepções
e técnicas de procriação; redução do
número de filhos; emancipação da mulher e
seu trabalho fora do lar; reflexo no interior da
família do conflito entre gerações etc.
18. Tantas mudanças repercutem no modo de ser
e de viver da família brasileira. E geram conseqüências
como a “deterioração dos valores
básicos da família que desintegra a comunhão
familiar, eliminando a participação co-responsável
de todos os seus membros e tornan-
do-os presa fácil do divórcio e do abandono
do lar”.11 Nossa sociedade viu aumentar, nos
últimos anos, a violência dentro e fora de casa;
a fragilidade das políticas sociais de trabalho,
22. Ainda podemos assinalar outros fenômenos
que afetam negativamente a família: a distribuição
maciça de contraceptivos; o aumento
da prática de esterilização; o recurso às diversas
formas de fecundação artificial; o aborto;
a rejeição, a redução e o abandono dos filhos;
as falhas dos pais na sua responsabilidade de
educadores; a negligente omissão paterna, que
deixa à mulher o inteiro cuidado pelo sustento
e educação dos filhos, o que gera graves prejuízos
na formação e desenvolvimento das suas
personalidades.
23. Muitos pais levantam a voz contra determinadas
colocações dos meios de comunicação
social e contra alguns programas veiculados
especialmente pela televisão, que destacam
a violência,
o hedonismo, a pornografia e o
materialismo
prático, que contrariam os valores
familiares e estimulam práticas antiéticas.
São muitos também os que chamam a atenção
para as falsas necessidades despertadas pelas
propagandas comerciais. Dependendo da orientação,
elas contribuem, com freqüência, mais
para a degradação do ser humano do que para
a construção de um sujeito ético, ou de uma
família digna.
21. O secularismo, a imaturidade psicológica
e diversos outros fatores socioeconômicos
e políticos tornam freqüente o abandono
dos valores morais. Isso gera famílias incompletas,
casais em situação irregular, um
número crescente de casamentos contraídos
no âmbito civil sem celebração sacramental e
uniões puramente consensuais.12 Aumenta a
desestruturação
da família, com a emergência
de vários
modelos de contrato nupcial, uniões
livres, tendência à difusão do homossexualismo,
à profissionalização da prostituição, a
difusão do rompimento do vínculo conjugal e
o número crescente destas rupturas, ainda nos
primeiros anos de matrimônio, as chamadas
“produções independentes” e o aumento do
número de mães (adolescentes) solteiras, de
pais solteiros (a maioria sem responsabilidade
e compromisso com a mulher e o filho) etc.
Apesar de todos esses aspectos negativos,
muitas famílias lutam para reafirmar sempre
mais os valores cristãos, que estão bem acima
desses fenômenos perturbadores.
O impacto do secularismo e do
indiferentismo religioso sobre a família
26. O secularismo, que estabelece uma oposição
entre os valores humanos e os divinos, atribui
ao homem a responsabilidade exclusiva por
sua história. Trata-se de “uma concepção do
mundo, segundo a qual esse mundo se explicaria
por si mesmo, sem ser necessário recorrer
a Deus; Deus se tornou supérfluo e embaraçante.
Tal secularismo, para reconhecer o
poder do homem, acaba por privar-se de Deus
ou mesmo por renegá-lo. Novas formas de
ateísmo parecem derivar dele [...]. Em conexão
com este secularismo ateu, nos é proposta
todos os dias, sob as formas mais diversas,
uma civilização de consumo, o hedonismo – busca desenfreada do prazer
24. A dupla jornada de trabalho e o acúmulo
de papéis assumidos pela mulher, seja em
razão do empobrecimento, seja pela procura
de uma realização pessoal, deixam muitas
vezes sem a devida assistência as crianças e
os adolescentes. A presença da mulher-mãe é
fator determinante para um sadio crescimento
afetivo e integral do filho. A Igreja tem contribuído
para a emancipação e a recuperação
da dignidade da mulher, mas ao mesmo tempo
sempre tem afirmado que “a verdadeira
promoção da mulher exige também que seja
claramente reconhecido o valor da sua função
materna e familiar em confronto com todas as
outras tarefas públicas e com todas as outras
profissões”. 13
25. Nesse contexto, a Igreja propõe à Pastoral
Familiar “uma ação decidida para defender
e promover a família, Igreja doméstica e
santuário da vida”.14 Sendo a família a célula
básica da sociedade, fonte de vida que abastece
as diferentes camadas e categorias sociais e
eclesiais, a Pastoral Familiar deverá articular-se,
de modo eficaz, com os organismos e Pastorais
de cada Diocese, de tal modo que contribua para que sejam revertidos e bloqueados todas as influências negativas que incidem sobre a família;
28. A separação entre fé e vida, exacerbada pelo
secularismo, traz como conseqüência um distanciamento
entre os critérios evangélicos e o
mundo do trabalho, da economia, da política, da
ciência, da arte, da literatura e dos meios de
comunicação social. Em decorrência, a família
– sem a plena consciência de sua pertença à
Igreja – é afetada por uma profunda incoerência
entre a fé que deve professar e praticar e
o compromisso que assume na sociedade.17
29. “No universo cristão/católico, há casais que
praticam a fé, atuam nas comunidades cristãs
e nos movimentos, mas não conseguem vivenciar
uma espiritualidade conjugal. Alguns
conservam uma piedade mais ou menos sólida,
mas marcada pelo individualismo. Outras
famílias abandonaram completamente a prática
religiosa. Há dicotomia entre fé e vida. Não
poucas famílias pedem os sacramentos para
seus filhos, mas não praticam a fé comunitária.
15 O comportamento pessoal fundado
no secularismo e na indiferença religiosa pode
produzir – como grave conseqüência para a sociedade
e para a família – uma conduta social
baseada no relativismo ético. Sem escrúpulos
vigora mais e mais a ética da situação, a ética
do momento e a ética do sentimento, frutos de
um subjetivismo exacerbado. Impera a moda
do “você decide!”, do “eu acho”.
27. Embora a maioria da população brasileira se
apresente como cristã, sua prática social está
impregnada de elementos que muitas vezes
negam e excluem os valores evangélicos. Isso
gera famílias que, apesar de se “sentirem” católicas,
“não assumem os valores cristãos como
elemento de sua identidade cultural, não sentindo
a necessidade de um compromisso eclesial
e evangelizador”.16 Muitas delas participam
de grupos que defendem práticas contrárias
à doutrina da Igreja.
30. Marcada por esse notório pluralismo religioso
e ético, o modo de entender e de viver a religião
na sociedade brasileira é heterogêneo.
Num ambiente de sincretismo religioso, muitos
brasileiros assumem várias concepções e
práticas religiosas simultaneamente: transitam
com facilidade de uma religião a outra ou
constroem uma visão religiosa com elementos
de diversas procedências. Há quem se declara
católico e acredita na reencarnação, sem uma
clara consciência das implicações da doutrina
espírita. Esse sincretismo tem uma repercussão
nefasta no seio da família.
31. A grande massa de informações e a confu-
são em questões de fé e doutrina produzem um
subjetivismo e um relativismo que colocam
em questão os valores mais fundamentais.
Nesse contexto, a falta de rumos claros leva,
com freqüência, muitas pessoas e famílias a
abandonar a vida eclesial e a buscar respostas
“milagrosas” para suas necessidades imediatas
em práticas supersticiosas ou mágicas.
32. Diante do pluralismo de comportamentos e
das teorias que pretendem legitimá-los, cada
um é solicitado a fazer sua escolha segundo
um critério ou um gosto pessoal. Desacredi-
tando da possibilidade de discernir normas
éticas objetivas ou valores universais, muitos
tendem a realizar suas ações e a construir
seus valores predominantemente a partir da
experiência individual.
33. Ao lado desta problemática religiosa, a questão
social tem uma influência fundamental na
estrutura familiar brasileira. O IBGE19 indica
acima de 20 milhões de famílias que não recebem
mais do que três salários mínimos ao
mês. Não têm, portanto, condições materiais
para o desempenho de suas funções. A primeira
dessas funções, conseguir a sobrevivência
material – a superação da miséria e da fome
– tem hoje graves implicações com o mundo
do crime e da prostituição. Outra delas, a capacidade
de proporcionar um ambiente favorável
ao pleno desenvolvimento do casal e dos
seus filhos é, em muitos casos, praticamente
impossível de se atingir: faltam as mínimas
condições de dignidade humana nas mora-
dias insalubres que formam parte das extensas
favelas em contínuo crescimento.
34. A precária capacidade de adquirir bens e serviços
e a compulsão consumista são também
fatores agravantes que induzem a família
a pretender padrões insustentáveis. Pelos
meios de comunicação social e também pelo
nefasto exemplo de alguns privilegiados estilos
de vida, a pessoa é induzida à obsessão
consumista
e se desgasta em trabalhar para
satisfazer esse incansável desejo de possuir
e gastar. A tensão social e psicológica que
resulta desses estilos de vida é a causadora
de tantos conflitos e crises que fortemente
influem na desagregação da união familiar. A
insegurança,
a instabilidade e o fechamento
social são fatores perturbadores que ameaçam
constantemente o cotidiano da família brasileira.
Esse quadro sofre também o impacto da
mentalidade capitalista, voltada apenas para
si mesma, para o individualismo e o egocentrismo.
Estes negam a transcendência e favorecem
a liberdade desenfreada e o relativismo
de toda a verdade e da moral.
35. Nos condomínios das grandes cidades,
solidificam-se o espírito individualista, o isolamento,
a busca de privacidade, acomodação
e tranqüilidade, em detrimento do exercício da
cidadania e da solidariedade. É comum cada
um defender o que é seu, sem levar em conta
que a família tem um eminente papel como
agente sociotransformador. Assim, a tendên-
cia natural do povo brasileiro de cultivar a
hospitalidade, a solidariedade e a prestação
de serviços aos vizinhos – principalmente
em casos de doenças, circunstâncias injustas,
dificuldades ou catástrofes sociais e ambientais
– vem perdendo terreno.20
Diretrizes de ação pastoral diante
dos desafios apresentados
36. Esta realidade em que predomina a negação
dos valores humanos e evangélicos constitui
um verdadeiro desafio para a Pastoral Familiar.
É neste mundo contraditório que os
cristãos têm, sobretudo, a responsabilidade
de viver e testemunhar a fé: ser “luz do mundo
e sal da terra”,21 impregnando a cultura
com valores evangélicos. Para ser sal e luz,
as famílias são convocadas, em virtude do
caráter social do sacramento do Matrimônio,
a anunciar o Evangelho pela proclamação da
Palavra, pelo testemunho, pelo diálogo e pelo
espírito de serviço.
37. Apesar do secularismo que permeia a cul-
tura, manifestações éticas e um sentimento
religioso perpassam o cotidiano da sociedade
brasileira. Diante dessa perspectiva, é tarefa
da Pastoral Familiar ajudar os casais, especialmente
os mais jovens, a discernir, neste
mundo contraditório, “os caminhos que conduzem
a pessoa para sua realização plena,
na comunhão com o Criador”.22 Os desafios
pastorais que essa realidade apresenta exigem
uma tomada de consciência evangélica na
pessoal doação generosa de si mesmo e respostas
adequadas às mudanças que ocorreram
na sociedade brasileira nas últimas décadas.
38. O sacramento do Matrimônio é resposta de fé a
um chamado de Deus para edificar a sociedade
e a Igreja, a serviço da construção do Reino de
Deus. Cabe à Pastoral Familiar promover todos
os esforços para ajudar as famílias a resistirem à
permissividade da sociedade secularizada e aos
relativismos de ordem moral.
39. “Nenhuma sociedade humana pode correr o
risco de permissivismo em questões de fundo
relativas à essência do matrimônio e da
família!”.23 Devem as autoridades, o Estado,
a sociedade e a Igreja defender vigorosamente
a identidade da família, para que não
caia na tentação de se deixar dominar por
pseudovalores.
A busca contínua da verdade
permite compreen-
der “quão grandes bens são
o matrimônio, a família e a vida; e quão grande
perigo constitui o desprezo de tais realidades e
a menor consideração pelos supremos valores
que fundam a família e a dignidade do ser humano”.
24
40. Ter consciência de que vivemos numa sociedade
em que convivem famílias com distintos
vínculos de união é um dos dados fundamentais
para assumirmos com objetividade a ação
pastoral de ajudar as famílias a professar e
viver sua fé: a celebrar o sacramento do Matrimônio,
se ainda não o fizeram, e a encontrar
no Evangelho uma mensagem de esperança.
Mesmo as famílias que se dizem católicas
necessitam do primeiro anúncio fundamental
da fé e da catequese, para que possam fazer
ou renovar uma adesão pessoal e livre a Jesus
Cristo e ao Evangelho. Com isso fortalecerão
o amor conjugal e a união familiar. A Pastoral
Familiar precisa ajudar os casais a conhecer
e testemunhar a verdade que vem de Deus, a
perseverar nela – mesmo em meio à confusão
e à desorientação produzidas pela sociedade –
e a fortalecer o vínculo da “Igreja doméstica”
com a comunidade eclesial.
41. Ao longo deste Diretório serão indicados
diversos meios que podem ajudar a Pastoral
Familiar a enfrentar esses desafios. Agora,
apenas adiantaremos, a título de exemplo,
alguns desses meios: um trabalho decidido e
dedicado à formação dos jovens para a vida
matrimonial; acompanhamento dos casais
jovens que contraíram matrimônio, para
ajudá-los a cumprirem sua missão; atendimento
social e orientação, sobretudo às famílias
mais pobres, para a paternidade e maternidade
responsáveis, o cuidado, educação e promoção
das crianças
e adolescentes; promoção de
programas e serviços que valorizam a vida e
um lícito planejamento familiar que se oponha
à cultura de morte; iniciativas para ajudar
as famílias em crise e dificuldades; cuidado
carinhoso para com os idosos; incentivo à
ação evangelizadora
da família entre as outras
famílias do seu meio; atenção especial às
famílias necessitadas e em crise.
42. Seriam inumeráveis as iniciativas a serem
tomadas na promoção dos valores familiares.
Assinalamos aqui, também a título de exemplo,
alguns deles nos quais depois insistiremos:
que o tema “família” permeie, com
freqüência, as celebrações litúrgicas, as homilias
e os documentos das diversas pastorais
e organismos da Igreja; que a problemática
familiar seja matéria de estudo nos seminários,
noviciados e faculdades de teologia; que
as universidades, especialmente as católicas,
sejam incentivadas a desenvolver pesquisas e
estudos científicos sobre a família; que sejam
formados agentes de pastoral com conhecimento
científico e teológico
para assumirem o
compromisso de orientar
as famílias sobre seus
princípios éticos e espirituais;25 que se desenvolva
a capacidade crítica efetiva – principalmente
diante da realidade e das idéias que os
meios de comunicação social, especialmente a
televisão, veiculam em relação ao matrimônio
e à família – a fim de ajudar os católicos a
encontrar seus próprios caminhos, partindo de
autênticos valores humanos e cristãos.
43. A ação pastoral há de contribuir, dessa forma,
para despertar nas famílias a criatividade necessária
para descobrirem como viver evangelicamente
em sua situação concreta.26
44. É importante que o bispo promova encontros
do clero com casais especializados na vivência
familiar, para o estudo do assunto. Haja um
cuidado especial para que não se improvise
uma Pastoral Familiar.
Fonte: tarcisio spirandio spirandio
Local:São Paulo

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