Segue para a Pastoral familiar um destaque do Diretório da Pastoral Familiar para ser estudado pelo grupo (obrigatório) e pelas outras pastorais (opcional). Capítulo 1 A SITUAÇÃO DA FAMÍLIA HOJE Necessidade de conhecer a situação 12. A Igreja está profundamente convencida de que só à luz do Evangelho encontra plena realização a esperança que o ser humano põe legitimamente no matrimônio e na família. Num momento histórico em que a família é alvo de numerosas forças que a procuram desestruturar e destruir, a Igreja sente de modo mais vivo a sua missão de proclamar a todos os desígnios de Deus sobre o matrimônio e a família.9 Este é também o motivo pelo qual o presente Diretório adquire uma grande significação e relevância. 13. Uma vez que a família desempenha uma função concreta e fundamental no meio da sociedade, é preciso conhecer a situação em que o matrimônio e a família se encontram hoje. Esta situação – diz a Familiaris Consortio – apresenta aspectos positivos e aspectos negativos. 14. “Por um lado, de fato, existe uma consciência mais viva da liberdade pessoal e maior atenção à qualidade das relações interpessoais no matrimônio, à promoção da dignidade da mulher, à procriação responsável, à educação dos filhos; há, além disso, a consciência da necessidade de que se desenvolvam relações entre as famílias por uma ajuda recíproca espiritual e material, a descoberta da missão eclesial própria da família e da sua responsabilidade na construção de uma sociedade mais justa. Por outro lado, contudo, não faltam sinais de degradação preocupante de alguns valores fundamentais: uma errada concepção teórica e prática da independência dos cônjuges entre si; as graves ambigüidades acerca da relação de autoridade entre pais e filhos; as dificuldades concretas que a família muitas vezes experimenta na transmissão dos valores; 19. Tomando também como referência as significativas mudanças socioculturais decorrentes do êxodo rural, fruto da revolução industrial, a família vem perdendo gradativamente a sua força como fator de integração social. 20. O Brasil também já se estabeleceu no contexto da globalização. Nesta – com um sistema de comunicações que reduz a distância entre as diferentes nações e povos –, paradoxalmente, os indivíduos se tornam mais próximos e, ao mesmo tempo, mais distantes. Muitas vezes esse processo só aproxima as mercadorias e fomenta conflitos de interesses. A globalização repercute na ética, na economia, na cultura e na religião. Tanto pode reforçar o processo da unidade dos povos e prestar um melhor serviço à família humana, como se restringir ciais indispensáveis para conseguir a mínima dignidade humana. As mudanças sociais e sua repercussão na família 17. As transformações técnicas e sociais propiciam a formação de uma nova cultura, que influi nos hábitos, valores, costumes e comportamentos dos povos. Em decorrência disso, também a família passa por alterações em suas funções. A título de exemplo, vamos citar algumas mudanças que têm afetado a família ultimamente: existência ou superposição de diferentes modelos de “família”; novas concepções e técnicas de procriação; redução do número de filhos; emancipação da mulher e seu trabalho fora do lar; reflexo no interior da família do conflito entre gerações etc. 18. Tantas mudanças repercutem no modo de ser e de viver da família brasileira. E geram conseqüências como a “deterioração dos valores básicos da família que desintegra a comunhão familiar, eliminando a participação co-responsável de todos os seus membros e tornan- do-os presa fácil do divórcio e do abandono do lar”.11 Nossa sociedade viu aumentar, nos últimos anos, a violência dentro e fora de casa; a fragilidade das políticas sociais de trabalho, 22. Ainda podemos assinalar outros fenômenos que afetam negativamente a família: a distribuição maciça de contraceptivos; o aumento da prática de esterilização; o recurso às diversas formas de fecundação artificial; o aborto; a rejeição, a redução e o abandono dos filhos; as falhas dos pais na sua responsabilidade de educadores; a negligente omissão paterna, que deixa à mulher o inteiro cuidado pelo sustento e educação dos filhos, o que gera graves prejuízos na formação e desenvolvimento das suas personalidades. 23. Muitos pais levantam a voz contra determinadas colocações dos meios de comunicação social e contra alguns programas veiculados especialmente pela televisão, que destacam a violência, o hedonismo, a pornografia e o materialismo prático, que contrariam os valores familiares e estimulam práticas antiéticas. São muitos também os que chamam a atenção para as falsas necessidades despertadas pelas propagandas comerciais. Dependendo da orientação, elas contribuem, com freqüência, mais para a degradação do ser humano do que para a construção de um sujeito ético, ou de uma família digna. 21. O secularismo, a imaturidade psicológica e diversos outros fatores socioeconômicos e políticos tornam freqüente o abandono dos valores morais. Isso gera famílias incompletas, casais em situação irregular, um número crescente de casamentos contraídos no âmbito civil sem celebração sacramental e uniões puramente consensuais.12 Aumenta a desestruturação da família, com a emergência de vários modelos de contrato nupcial, uniões livres, tendência à difusão do homossexualismo, à profissionalização da prostituição, a difusão do rompimento do vínculo conjugal e o número crescente destas rupturas, ainda nos primeiros anos de matrimônio, as chamadas “produções independentes” e o aumento do número de mães (adolescentes) solteiras, de pais solteiros (a maioria sem responsabilidade e compromisso com a mulher e o filho) etc. Apesar de todos esses aspectos negativos, muitas famílias lutam para reafirmar sempre mais os valores cristãos, que estão bem acima desses fenômenos perturbadores. O impacto do secularismo e do indiferentismo religioso sobre a família 26. O secularismo, que estabelece uma oposição entre os valores humanos e os divinos, atribui ao homem a responsabilidade exclusiva por sua história. Trata-se de “uma concepção do mundo, segundo a qual esse mundo se explicaria por si mesmo, sem ser necessário recorrer a Deus; Deus se tornou supérfluo e embaraçante. Tal secularismo, para reconhecer o poder do homem, acaba por privar-se de Deus ou mesmo por renegá-lo. Novas formas de ateísmo parecem derivar dele [...]. Em conexão com este secularismo ateu, nos é proposta todos os dias, sob as formas mais diversas, uma civilização de consumo, o hedonismo – busca desenfreada do prazer 24. A dupla jornada de trabalho e o acúmulo de papéis assumidos pela mulher, seja em razão do empobrecimento, seja pela procura de uma realização pessoal, deixam muitas vezes sem a devida assistência as crianças e os adolescentes. A presença da mulher-mãe é fator determinante para um sadio crescimento afetivo e integral do filho. A Igreja tem contribuído para a emancipação e a recuperação da dignidade da mulher, mas ao mesmo tempo sempre tem afirmado que “a verdadeira promoção da mulher exige também que seja claramente reconhecido o valor da sua função materna e familiar em confronto com todas as outras tarefas públicas e com todas as outras profissões”. 13 25. Nesse contexto, a Igreja propõe à Pastoral Familiar “uma ação decidida para defender e promover a família, Igreja doméstica e santuário da vida”.14 Sendo a família a célula básica da sociedade, fonte de vida que abastece as diferentes camadas e categorias sociais e eclesiais, a Pastoral Familiar deverá articular-se, de modo eficaz, com os organismos e Pastorais de cada Diocese, de tal modo que contribua para que sejam revertidos e bloqueados todas as influências negativas que incidem sobre a família; 28. A separação entre fé e vida, exacerbada pelo secularismo, traz como conseqüência um distanciamento entre os critérios evangélicos e o mundo do trabalho, da economia, da política, da ciência, da arte, da literatura e dos meios de comunicação social. Em decorrência, a família – sem a plena consciência de sua pertença à Igreja – é afetada por uma profunda incoerência entre a fé que deve professar e praticar e o compromisso que assume na sociedade.17 29. “No universo cristão/católico, há casais que praticam a fé, atuam nas comunidades cristãs e nos movimentos, mas não conseguem vivenciar uma espiritualidade conjugal. Alguns conservam uma piedade mais ou menos sólida, mas marcada pelo individualismo. Outras famílias abandonaram completamente a prática religiosa. Há dicotomia entre fé e vida. Não poucas famílias pedem os sacramentos para seus filhos, mas não praticam a fé comunitária. 15 O comportamento pessoal fundado no secularismo e na indiferença religiosa pode produzir – como grave conseqüência para a sociedade e para a família – uma conduta social baseada no relativismo ético. Sem escrúpulos vigora mais e mais a ética da situação, a ética do momento e a ética do sentimento, frutos de um subjetivismo exacerbado. Impera a moda do “você decide!”, do “eu acho”. 27. Embora a maioria da população brasileira se apresente como cristã, sua prática social está impregnada de elementos que muitas vezes negam e excluem os valores evangélicos. Isso gera famílias que, apesar de se “sentirem” católicas, “não assumem os valores cristãos como elemento de sua identidade cultural, não sentindo a necessidade de um compromisso eclesial e evangelizador”.16 Muitas delas participam de grupos que defendem práticas contrárias à doutrina da Igreja. 30. Marcada por esse notório pluralismo religioso e ético, o modo de entender e de viver a religião na sociedade brasileira é heterogêneo. Num ambiente de sincretismo religioso, muitos brasileiros assumem várias concepções e práticas religiosas simultaneamente: transitam com facilidade de uma religião a outra ou constroem uma visão religiosa com elementos de diversas procedências. Há quem se declara católico e acredita na reencarnação, sem uma clara consciência das implicações da doutrina espírita. Esse sincretismo tem uma repercussão nefasta no seio da família. 31. A grande massa de informações e a confu- são em questões de fé e doutrina produzem um subjetivismo e um relativismo que colocam em questão os valores mais fundamentais. Nesse contexto, a falta de rumos claros leva, com freqüência, muitas pessoas e famílias a abandonar a vida eclesial e a buscar respostas “milagrosas” para suas necessidades imediatas em práticas supersticiosas ou mágicas. 32. Diante do pluralismo de comportamentos e das teorias que pretendem legitimá-los, cada um é solicitado a fazer sua escolha segundo um critério ou um gosto pessoal. Desacredi- tando da possibilidade de discernir normas éticas objetivas ou valores universais, muitos tendem a realizar suas ações e a construir seus valores predominantemente a partir da experiência individual. 33. Ao lado desta problemática religiosa, a questão social tem uma influência fundamental na estrutura familiar brasileira. O IBGE19 indica acima de 20 milhões de famílias que não recebem mais do que três salários mínimos ao mês. Não têm, portanto, condições materiais para o desempenho de suas funções. A primeira dessas funções, conseguir a sobrevivência material – a superação da miséria e da fome – tem hoje graves implicações com o mundo do crime e da prostituição. Outra delas, a capacidade de proporcionar um ambiente favorável ao pleno desenvolvimento do casal e dos seus filhos é, em muitos casos, praticamente impossível de se atingir: faltam as mínimas condições de dignidade humana nas mora- dias insalubres que formam parte das extensas favelas em contínuo crescimento. 34. A precária capacidade de adquirir bens e serviços e a compulsão consumista são também fatores agravantes que induzem a família a pretender padrões insustentáveis. Pelos meios de comunicação social e também pelo nefasto exemplo de alguns privilegiados estilos de vida, a pessoa é induzida à obsessão consumista e se desgasta em trabalhar para satisfazer esse incansável desejo de possuir e gastar. A tensão social e psicológica que resulta desses estilos de vida é a causadora de tantos conflitos e crises que fortemente influem na desagregação da união familiar. A insegurança, a instabilidade e o fechamento social são fatores perturbadores que ameaçam constantemente o cotidiano da família brasileira. Esse quadro sofre também o impacto da mentalidade capitalista, voltada apenas para si mesma, para o individualismo e o egocentrismo. Estes negam a transcendência e favorecem a liberdade desenfreada e o relativismo de toda a verdade e da moral. 35. Nos condomínios das grandes cidades, solidificam-se o espírito individualista, o isolamento, a busca de privacidade, acomodação e tranqüilidade, em detrimento do exercício da cidadania e da solidariedade. É comum cada um defender o que é seu, sem levar em conta que a família tem um eminente papel como agente sociotransformador. Assim, a tendên- cia natural do povo brasileiro de cultivar a hospitalidade, a solidariedade e a prestação de serviços aos vizinhos – principalmente em casos de doenças, circunstâncias injustas, dificuldades ou catástrofes sociais e ambientais – vem perdendo terreno.20 Diretrizes de ação pastoral diante dos desafios apresentados 36. Esta realidade em que predomina a negação dos valores humanos e evangélicos constitui um verdadeiro desafio para a Pastoral Familiar. É neste mundo contraditório que os cristãos têm, sobretudo, a responsabilidade de viver e testemunhar a fé: ser “luz do mundo e sal da terra”,21 impregnando a cultura com valores evangélicos. Para ser sal e luz, as famílias são convocadas, em virtude do caráter social do sacramento do Matrimônio, a anunciar o Evangelho pela proclamação da Palavra, pelo testemunho, pelo diálogo e pelo espírito de serviço. 37. Apesar do secularismo que permeia a cul- tura, manifestações éticas e um sentimento religioso perpassam o cotidiano da sociedade brasileira. Diante dessa perspectiva, é tarefa da Pastoral Familiar ajudar os casais, especialmente os mais jovens, a discernir, neste mundo contraditório, “os caminhos que conduzem a pessoa para sua realização plena, na comunhão com o Criador”.22 Os desafios pastorais que essa realidade apresenta exigem uma tomada de consciência evangélica na pessoal doação generosa de si mesmo e respostas adequadas às mudanças que ocorreram na sociedade brasileira nas últimas décadas. 38. O sacramento do Matrimônio é resposta de fé a um chamado de Deus para edificar a sociedade e a Igreja, a serviço da construção do Reino de Deus. Cabe à Pastoral Familiar promover todos os esforços para ajudar as famílias a resistirem à permissividade da sociedade secularizada e aos relativismos de ordem moral. 39. “Nenhuma sociedade humana pode correr o risco de permissivismo em questões de fundo relativas à essência do matrimônio e da família!”.23 Devem as autoridades, o Estado, a sociedade e a Igreja defender vigorosamente a identidade da família, para que não caia na tentação de se deixar dominar por pseudovalores. A busca contínua da verdade permite compreen- der “quão grandes bens são o matrimônio, a família e a vida; e quão grande perigo constitui o desprezo de tais realidades e a menor consideração pelos supremos valores que fundam a família e a dignidade do ser humano”. 24 40. Ter consciência de que vivemos numa sociedade em que convivem famílias com distintos vínculos de união é um dos dados fundamentais para assumirmos com objetividade a ação pastoral de ajudar as famílias a professar e viver sua fé: a celebrar o sacramento do Matrimônio, se ainda não o fizeram, e a encontrar no Evangelho uma mensagem de esperança. Mesmo as famílias que se dizem católicas necessitam do primeiro anúncio fundamental da fé e da catequese, para que possam fazer ou renovar uma adesão pessoal e livre a Jesus Cristo e ao Evangelho. Com isso fortalecerão o amor conjugal e a união familiar. A Pastoral Familiar precisa ajudar os casais a conhecer e testemunhar a verdade que vem de Deus, a perseverar nela – mesmo em meio à confusão e à desorientação produzidas pela sociedade – e a fortalecer o vínculo da “Igreja doméstica” com a comunidade eclesial. 41. Ao longo deste Diretório serão indicados diversos meios que podem ajudar a Pastoral Familiar a enfrentar esses desafios. Agora, apenas adiantaremos, a título de exemplo, alguns desses meios: um trabalho decidido e dedicado à formação dos jovens para a vida matrimonial; acompanhamento dos casais jovens que contraíram matrimônio, para ajudá-los a cumprirem sua missão; atendimento social e orientação, sobretudo às famílias mais pobres, para a paternidade e maternidade responsáveis, o cuidado, educação e promoção das crianças e adolescentes; promoção de programas e serviços que valorizam a vida e um lícito planejamento familiar que se oponha à cultura de morte; iniciativas para ajudar as famílias em crise e dificuldades; cuidado carinhoso para com os idosos; incentivo à ação evangelizadora da família entre as outras famílias do seu meio; atenção especial às famílias necessitadas e em crise. 42. Seriam inumeráveis as iniciativas a serem tomadas na promoção dos valores familiares. Assinalamos aqui, também a título de exemplo, alguns deles nos quais depois insistiremos: que o tema “família” permeie, com freqüência, as celebrações litúrgicas, as homilias e os documentos das diversas pastorais e organismos da Igreja; que a problemática familiar seja matéria de estudo nos seminários, noviciados e faculdades de teologia; que as universidades, especialmente as católicas, sejam incentivadas a desenvolver pesquisas e estudos científicos sobre a família; que sejam formados agentes de pastoral com conhecimento científico e teológico para assumirem o compromisso de orientar as famílias sobre seus princípios éticos e espirituais;25 que se desenvolva a capacidade crítica efetiva – principalmente diante da realidade e das idéias que os meios de comunicação social, especialmente a televisão, veiculam em relação ao matrimônio e à família – a fim de ajudar os católicos a encontrar seus próprios caminhos, partindo de autênticos valores humanos e cristãos. 43. A ação pastoral há de contribuir, dessa forma, para despertar nas famílias a criatividade necessária para descobrirem como viver evangelicamente em sua situação concreta.26 44. É importante que o bispo promova encontros do clero com casais especializados na vivência familiar, para o estudo do assunto. Haja um cuidado especial para que não se improvise uma Pastoral Familiar. | |||
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Atenção Pastoral Familiar - Destaque semanal do Diretório
Una - BA 01 de outubro de 2011
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