Greves: consumidor é quem paga a conta

Una - BA 29 de setembro de 2011

Mães com crianças de colo têm atendimento prioritário por lei em todas as repartições públicas e empresas que oferecem serviços públicos (como agências bancárias e Correios). A lei ainda estabelece multas para os bancos que obrigarem seus clientes a esperar mais de 15 minutos pelo atendimento. No entanto, sob sol quente, em pé na calçada, Ana Carolina Montalvão e o filho de nove meses aguardam há cerca de 40 minutos pela abertura dos portões da Caixa Econômica Federal, na avenida Presidente Vargas, em Belém.
Com a greve dos bancários, iniciada no último dia 27, a agência não teve expediente. O acesso foi negado até aos caixas eletrônicos, localizados na entrada do prédio. Salvo os adesivos espalhados pelas paredes, não havia avisos ou funcionários à vista para esclarecer quaisquer dúvidas. Só restou então o desespero à dona de casa de 20 anos. “Preciso entrar nesse banco. Meu filho tem leucemia e vou comprar o remédio dele com o dinheiro do Bolsa Família”, conta. O medicamento da criança, que faz tratamento no Hospital Ophir Loyola, não foi distribuído pelo Sistema Único de Saúde (SUS) este mês. “Só quero que me digam pra onde ir, o que fazer”, suplicou a jovem.

DÚVIDAS

As dúvidas eram corriqueiras entre os clientes. Na avenida Presidente Vargas, a maior parte das agências não funcionou ou operou com número reduzido de funcionários. Numa delas, do Banpará, estava a aposentada Maria de Jesus, 58. Ela foi ao banco para obter um novo cartão para sacar dinheiro, mas voltou para casa de mãos vazias. “Como faz pra tirar dinheiro? Perdi meu cartão e senha. E as minhas contas?”, perguntou.

O Sindicato dos Bancários do Pará informou que 6 mil trabalhadores pararam ontem no Estado, de um total de 8.179. 105 agências e 67 Postos de Atendimento Bancário (PAB) da Região Metropolitana de Belém fecharam as portas, de acordo com a entidade. Os grevistas pleiteiam 12,8% de aumento sobre pisos e salários, além de ampliação dos ganhos nas participações nos lucros. A greve segue sem perspectiva de acordo.

“Apesar dos serviços suspensos nas agências, existem serviços alternativos para os clientes”, diz Rosalina Amorim, presidente do sindicato. Movimentações financeiras e pagamentos podem ser feitos via telefone ou pela internet. Há ainda a opção de correspondentes bancários, como casas lotéricas. Contas correntes e poupanças da Caixa e Banco do Brasil com cartão magnético e identidade também podem ser feitos nas lotéricas, limitados a três transações por dia. Serão aceitas contas de água, luz, gás, telefone e boletos da Caixa Econômica no valor máximo de R$ 1 mil. Para boletos de outros bancos, o limite é de R$ 700. Eles só serão aceitos até o prazo de vencimento.

Paralisação nacional dos Correios já dura 16 dias

Mesmo que consiga achar um local para pagar suas contas, talvez você não receba os boletos a tempo. Há 16 dias os Correios permanecem em greve nacional. Quinze das 20 agências do Correio em Belém estão paralisadas.

O presidente do sindicato dos Correios dá algumas dicas para minimizar o infortúnio para os usuários. O cliente pode rastrear a encomenda pelo telefone 3003-0100 (capitais) e 0800-7257282 (demais localidades). Se estiver munido do número de registro da encomenda, o rastreamento pode ser feito pelo próprio usuário pelo site www.correios.com.br. Se a conta não chegou, a recomendação é procurar a empresa que emitiu o boleto e pedir uma 2ª via com prazo aumentado. No caso das contas de água e luz, é possível fazê-lo por meio do site das concessionárias.

O Sindicato dos Bancários informou que hoje haverá uma passeata unificada de greve dos trabalhadores bancários e dos correios. A concentração começa às 8h, na escadinha da Estação das Docas. A manifestação irá percorrer toda a Avenida Presidente Vargas, finalizando em frente ao Banco da Amazônia.

Greve na rede estadual de ensino prejudica 800 mil

Enquanto alguns se preocupam com as contas atrasadas no final deste mês em decorrência das greves dos bancários e Correios, a estudante Simone Souza, 19, já está sofrendo o vestibular que irá enfrentar em dezembro. Aluna do 3º ano do Instituto de Educação do Pará (IEP), ela está sem aula desde a última segunda-feira (26), quando foi iniciada a greve dos professores do ensino médio e fundamental da rede estadual de ensino.

“O jeito vai ser ter que estudar em casa. Mais uma vez o estudante de colégio público está em desvantagem. Teremos o conteúdo atrasado. Mesmo estudando em casa, como vou fazer se tiver uma dúvida?”, questiona a estudante que irá prestar direito na Universidade Federal do Pará (UFPA). “O pior é que os atrasos estão se acumulando”, reclama Gláucia Brandão, 17, aluna do primeiro ano do IEP. “Com a greve do ano passado, nós não tivemos férias no final do ano para compensar as faltas”, lembra.

O atraso repercute no calendário deste ano letivo. As provas de recuperação do segundo semestre, que terminaria em junho, estão sendo aplicadas só agora, em setembro. A terceira avaliação estava programada para novembro. “No ritmo que estava, ia terminar o ano letivo depois do vestibular da UFPA. Agora nem sei quando isso vai acontecer”, lamenta Simone Souza.

“Os duzentos dias estão garantidos”, afirma Matheus Ferreira, professor e secretário geral do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública no Pará (Sintepp). “Infelizmente, eles não vão vir sem sacrifícios”, afirma.

De acordo com o sindicato, cerca de 60% dos colégios da Região Metropolitana de Belém aderiram à greve, no Estado esse número chega a 80%. A greve irá afetar cerca de 800 mil alunos no Pará.

Os professores exigem o pagamento integral do piso nacional, de R$ 1.187, aprovado pelo Congresso e referendado pelo Superior Tribunal Federal. O governo do Estado inseriu já na folha de pagamento de setembro o equivalente a 30% da diferença para atingir o piso nacional. Sem acordo, os professores decidiram manter a greve por tempo indeterminado.

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